Filipe
“Alguns de nós têm a sorte de, ao longo da vida, construir uma espécie de biblioteca (e/ou pinacoteca, antologia, repertório etc.) afetiva, em que só são admitidas algumas obras escolhidas a dedo. Hoje compartilho um comentário sobre um dos livros que têm lugar garantido na minha: Grande Esperanças, de Charles Dickens.
Ambientado na Inglaterra do século XIX, o livro conta a história de Pip, um menino órfão pobre morador do interior da Inglaterra do século XIX. Criado pela irmã, uma dona de casa austera, e o cunhado, um bondoso ferreiro, Pip um dia recebe, de um misterioso benfeitor, a proposta de estudar em Londres para se tornar um cavalheiro.
O livro foi publicado originalmente em fascículos semanais, de dezembro de 1860 a agosto de 1861. Isso explica ― ao menos parcialmente ― sua estrutura cheia de suspense e humor, duas estratégias que Dickens utiliza com maestria para convencer seu público a seguir lendo.
Ao longo da história, narrada em primeira pessoa, o leitor é convidado a ver o mundo do ponto de vista de Pip e a compartilhar suas emoções: o medo de um homem desconhecido maltrapilho e violento, a dor profunda de ser menosprezado por Estella, a amizade calorosa do ferreiro Joe, a apreensão ao entrar na mansão da misteriosa senhorita Havisham, a ternura inabalável de Biddy...
Dickens é criador de vários dos personagens mais cativantes da literatura mundial. Ao longo da história, e na interação com alguns desses personagens, Pip muda, aprende, cresce ― e chama o leitor a fazer o mesmo. Não por acaso, a crítica considera Grandes Esperanças um romance de formação, pois narra o amadurecimento de Pip, que se torna uma pessoa melhor, mais humana:
“Deus sabe que nós não devemos nunca ter vergonha de nossas lágrimas, pois elas são chuva sobre o pó de terra, que recobre nossos corações endurecidos. Fiquei melhor depois de chorar ― mais arrependido, mais ciente de minha ingratidão, mais gentil.” (p. 176)
Professor Filipe Ferreira
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